domingo, 30 de agosto de 2009

Hein?

Quinta-feira pós-amigdalite, ainda na companhia da amiga amoxicilina, e lá estava eu no Canecão. A minha ida foi por motivos profissionais... Ok, na verdade eu estava era curiosíssima para ver o show da mais nova cantora da MPB. Ana Cañas havia me conquistado há poucas semanas, com o clipe de Esconderijo, à priori, e com o fresquinho Hein?. Fazia tempo que eu não via nada parecido porque as intérpretes atuais são adeptas desse sambinha moderno, ainda que cantem músicas lá da velha guarda. Ela não. A veia rock presente neste novo albúm me fizeram despertar para as letras bacaninhas que a acompanha.

Mas aí veio um show que perdeu os eixos e se resumiu em uma parábola. Ana Cañas entrou no palco desencontrada com a banda e as primeiras músicas soaram estranhas (Na multidão, que abriu a noite deveria ter sido uma das melhores). Conforme o show foi passando, a Ana foi se soltando. A tendência era que melhorasse, e chegou uma hora que até ficou bom: a cantora se encontrou com os músicos e, juntos, atingiram o equilíbrio. Pouco depois, a coisa desandou outra vez e terminou feio.

Tive a impressão que faltou maturidade. A parábola foi causada pela bebida que alterou movimentos e interpretações. Não é questão de puritanismo, mas de limites. O gráfico poderia ter sido diferente se ela tivesse usado os benefícios da cachacinha. O fato de ter se soltado no palco foi ótimo, deu para ver a artista com sentidos aguçados pelo som da sua ótima banda. Falar merda no microfone também vale, mas no fim Ana enrolava a língua e conseguiu se classificar como bêbada chata, viajando mais do que deveria. Foi engraçado até se tornar um exagero. Os vícios da cantora também ficaram aflorados e Cañas abusou da bela voz que tem. As firulas embassaram suas interpretações e ela parecia ter um pedal wah-wah na boca.

Consegui curtir, ainda assim. Algumas músicas, como Devolve moço e Rainy Day #12&35 (cover de Bob Dylan) foram ótimas. A menina e o cachorro, lá no iniciozinho do show, preservou sua doçura, enquanto Esconderijo deu para engolir. Quando eu vou a um show de um artista que eu gosto gero a expectativa de ver, no palco, a reprodução daquele trabalho que toca no meu radinho. A versão live de Ana Cañas soou com o mesmo nome de seu CD e eu prefiro voltar para a gravada, nos meus fones de ouvido. Beeem melhor.

sábado, 22 de agosto de 2009

Revendo os conceitos

Cena clássica: grupinho batendo papo sobre cinema e alguém fala de um musical incrível. Eu sem-pre fui a primeira a dizer que não tinha o menor saco para o gênero. O preconceito deve ser decorrente de trauma pós-Moulin Rouge, que é o filme mais chato que eu já assisti. Depois dele, nenhum musical mereceu minha atenção. Nem o Chicago com Oscar nas costas!

Da mesma forma, eu repetia minha teoria com peças teatrais. Muito simples: se eu ficava constragida com uma cena em que personagens cantarolavam o que deveriam falar no cinema, imagina no teatro, com os atores ali tão pertinho. E vamos combinar que musical é uma coisa louca porque o cara tem que interpretar, dançar e cantar, além de seguir todas as marcações. A probabilidade de ser muito ruim é muito grande.

Porém, as coisas mudaram um pouco depois que eu assisti Hairspray. E mudaram muito depois de ver O despetar da primavera. Vamos seguir a ordem cronológica dos acontecimentos.

Fui ver Hairspray sabendo sobre a equipe técnica da iluminação (ossos do ofício) e que tinham uns globais no elenco, inclusive um vestido de mulher. Fui pega de surpresa com as músicas super dançantes-anos-60. Divertido, vai! Umas piadinhas legais, outras horrorosas (acontece!). Mas as músicas constrangedoras estavam lá, me fazendo afundar na cadeira, e as letras soaram estranhas por muitas vezes. Mas saí achando nice e "nice is good".

O problema maior foi depois, já que, por causa da matéria sobre o musical, virei expert no assunto. Vi zilhões de vídeos de outras versões no youtube, li muito e vi até o filme. As letras adaptadas se mostraram pior do que tinham parecido e as críticas revoltadas que eu vi por aí, de gente que entende de teatro muito mais que eu, fizeram sentido. Mas epa! Nada de falar mal do Falabella... tirando a adaptação, a peça tem momentos-vergonha-alheia que não são culpa dele.

Pouco tempo depois estava pautada para outra matéria sobre musical. Oh, vida cruel. Ou não... Meu medo maior foi saber que tratava-se de uma peça dramática, que fala de repressão e libertação. Era muito mais provável de sentir aquele conhecido constrangimento. Mas O despertar da primavera me libertou do preconceito, de alguma forma. As músicas eram entonadas como extensão dos personagens e não causaram estranhamento em sua adaptação. A versão rock de Ducan Sheik pode ir além das cenas e também me fez afundar na cadeira. Só que desta vez afundei de encantamento, com olhos vidrados que chegaram a encher de lágrimas em uma das cenas. Sensacional!

Muita calma. Ainda não sou fã de musicais, mas já não posso mais entonar a frase de sempre. Tenho que considerar, pelo menos, os grandes espetáculos. Eles me venceram.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"A felicidade só é real quando compartilhada"

Minhas férias prolongadas por conta da gripe suína foram traduzidas em filmes e livros (da série Crepúsculo, como dito anteriormente). Como tenho feito todos os dias, ontem olhei a programação do Telecine e lá no Cult um nome teve aquele brilho de "pode ser interessante". Na Natureza Selvagem me chamou atenção por ter sido dirigido por Sean Penn e por ser "aquele filme para o qual o Eddie Vedder fez a trilha sonora". Porém, a sinopse me pareceu simplista e a duração de 145 minutos me fez pensar na minha capacidade de assistí-lo: tenho dificuldade para filmes longos.

Antes da filme, veio a vinhetinha do Marcelo Janot, que escreve o Cult Blog e para quem eu dou alguma credibilidade. No vídeo ele dizia que o filme havia provocado reações opostas em seus espectadores. Enquanto alguns mergulharam na viajem de Alexander Supertramp, outros passaram indiferentes pelas imagens. Curiosa, eu já queria saber de que lado eu ficaria e estava pré-disposta a curtir aquilo.

Não precisei me esforçar. Into the wild tem um roteiro contagiante, capaz de envolver e conduzir o espectador pela a estória do jovem que termina a faculdade e resolve viajar pelo país, em direção ao Alasca selvagem. Sean Penn faz um trabalho excelente como diretor e acerta em cheio em suas escolhas, a trilha colabora e muito para a imersão naquele universo e a fotografia é de encher os olhos.

Aliado a isso, vem a parte que mais me encanta. O filme mexe com a visão de mundo que temos estabelecida, mexe com os relacionamentos humanos e com a delicada relação homem-natureza, criada por um cara que viveu, em caixa alta, cada momento.

Ai que vontade de pegar uma mochila... Eu fiquei no primeiro grupo descrito pelo Janot e terminei o filme com uma sensação de reflexão. Into the wild já ganhou seu lugar no hall dos meus favoritos e um dos motivos é fazer com que suas frases e suas imagens continuem ecoando até agora na minha memória.