quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rock in Rio - Parte I

Desde o seu anúncio, tudo o que precedeu o Rock in Rio foi uma frisseta: ingressos esgotados em tempo recorde, antes mesmo da divulgação completa do line-up, promoções de todos os zilhões de patrocinadores, publicidade alucinada, esquemas de trânsito faraônicos. Era de se esperar depois de um jejum de dez anos. Eu presenciei aquele lá de 2001 e estou tendo a oportunidade de estar por dentro desta edição.

Depois de três dias intensos de trabalho no "maior festival de música do mundo", resolvi roquear por aqui. A cidade do rock está lá lindona, recebendo cerca de 100 mil pessoas por dia. As instalações surpreenderam com grama sintética e banheiros "de verdade", a programação segue como o combinado (apesar dos atrasos) e a alimentação é variada (apesar das filas e do preço nem um pouco camarada). Ainda rola desorganização para entrar e, principalmente, para sair, mas a segunda semana tá aí, prontinha pra receber melhorias.

Ainda assim, eu juro que eu não vim aqui pra falar disso. Eu quero é rock! Pois bem, resolvi fazer um top, com os destaques de cada dia. Acho difícil conseguir escrever sobre os shows, mas fica aí mais uma das minhas promessas mambembes.

23.09 - 1º dia

Highlights

Katy Perry cantando "Peacock", com direito a pluma do pavão. A música ainda não é single, a moça dá suas escorregadas, mas temos aí um hit em potencial, com letra divertidíssima e batida contagiante. Sem contar que a apresentação contou muitíssimos pontos.


"Tiny Dancer"! Porque é o Sir Elton John, todo elegante trabalhado no paetê, com a voz que continua lindíssima. A música é um clássico desde que eu nem pensava em nascer e ver isso ao vivo foi um privilégio. (E, convenhamos, quem não lembra aaquela cena incrível de "Almost Famous"?)


A mistura de Paralamas e Titãs pra abrir o palco Mundo desta edição. As bandas, que tocaram no primeiro Rock in Rio, em 87, representam não só o rock nacional, mas também a música no país. O disco que os caras fizeram juntos deu base ao setlist do show. Belíssimo encontro!


O setlist do encontro entre Ed Motta, Rui Velloso e Andreas Kisser, no palco Sunset. Só clássicos do rock 'n' roll, com um pôr do sol bonito.

A roda no show do Móveis Coloniais de Acaju, que não se intimidou com o número de pessoas e fez a festa no sunset. Mariana Aydar também desceu do palco e todo mundo se divertiu. Palmas pros fanfarrões de Brasília.


Bads

O telão do palco Sunset, que no meio do show do The Gift e The Asteroid Galaxy Tour, começou a transmitir o show de abertura do palco Mundo. Ah, que feio!

A Rihanna que atrasou uma hora e estava muito preocupada em ser sexy e em ajeitar a franja nova, e acabou esquecendo de ser simpática com o público. Sem contar o figurino sem graça, o tanque de guerra que não serviu pra nada e o setlist que entrou bombando e depois deu um sono quase incontrolável.

Não sei se podemos classificar como bad... A saída de Claudinha Leitte era pra ter sido triunfal, mas aí...


24.09 - 2º dia

Highlights

Red Hot Chili Peppers e ponto. O show foi incrível, misturou músicas do álbum novo, lançado mês passado com clássicos da carreira da banda. E o jejum já durava nove anos desde a última vez que os caras passaram por aqui. Lavou a alma.

O encontro de Tulipa Ruiz com Nação Zumbi e de Milton Nascimento com Esperanza Espalding. Deu mais que certo!

Mike Patton quebrando tudo com a sua orquestra â tarantela no palco Sunset. Por mais que parecesse esquisito no início, a hipnose foi coletiva com o passar do show.


Bads

Os três telões, tanto no show do Snow Patrol quando no do Red Hot, tinham efeitos. Legal o telão de fundo ser artístico, mas o público que está lá atrás queria muito ver a cara do Anthony Kiedis em tons normais e não em negativo azul.

Dinho Ouro Preto com seus "moçada" e "tá ligado", se mostrando um legítimo vovô garoto.

O público bebum e em clima de pegação que tomou conta da cidade do rock. Eca!

25.09 - 3º dia

Highlights

Lemmy, aos 65 anos, mostrou porque é uma lenda do rock. O Motörhead fez um cheio de energia e não se abateu com a ligeira apatia do público.

"Duality" com o DJ pulando de 4 metros de altura, a bateria na vertical e todo o espetáculo apresentado pelo Slipknot.


A sequência de "Nothing Else Matters" e "Enter Sandman", fechando o show do Metallica antes do bis. Show antológico!

Sepultura ainda mais agressivo com a percurssão industrial dos franceses do Tambors Du Bronx.

Bads

As desafinadas de Edu Falaschi, do Angra.

O som abafado no show do Metallica pra quem estava bem lá atrás, perto das bandeiras. A pressão só rolou pra quem se espremeu um pouco mais.

Os problemas técnicos que fizeram o Sepultura e o Tambors Du Bronx atrasar o show em uma hora.

Os problemas no microfone de Jimmy, que fez sua voz sumir algumas vezes durante o show do Matanza.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Rehab nela

Se você, assim como eu, foi ao show de Amy Winehouse no Rio, no dia 10 de janeiro, você merecia ter assistido um show melhor. Aquele velho ditado, que diz que quanto mais se espera, maior é a chance de se frustrar, se confirmou na noite que abriria o ano com chave de ouro. A chave foi, no máximo, de bronze e eu digo isso com pesar.

Não há dúvidas de que a cantora inglesa é dona de uma voz poderosa e que, quando quer, é capaz de arrepiar dos pés a cabeça. Mas parece que ela não quis. Ao invés de cantar, ela cambaleou de um lado para o outro, saiu e voltou ao palco várias vezes, deixou a simpatia de lado. Das 17 músicas programadas, ela murmurou sete, enquanto seu backing vocal esbravejou três. Sua big band, apesar de dançante, parecia tensa com qualquer reação da cantora de corpo presente, apenas. Sem interagir com o público e parecendo perdida no próprio setlist, ela errou algumas letras, teve uma crise de risos e, quando soltou a voz, mostrou o por quê é considerada uma das maiores cantoras da atualidade. Após uma hora de apresentação, um "thank you" tímido e algumas garrafas de cerveja, Amy Winehouse deixou o palco sem dizer nada.

O público estava mesmo esperando uma apresentação assim. Cada vez que ela bebia, ouvia-se gritos. Toda a perturbação em torno da grande diva legitima suas ações relapsas com relação aos fãs, a banda, a imprensa. Se ela xingou, caiu, não cantou, tudo bem, porque ela é a Amy.

Há uma distorção curiosa aí. Os fãs estão testemunhando a morte lenta de mais um gênio da música, assim como o fizeram com Kurt Cobain, Jim Morrison, Janis Joplin. E acham que isso é motivo de vibrar no show. Amy Winehouse está nos críticos 27 anos de vida e eu senti pena de cada deslize presenciado, por ter a certeza de que poderia ter sido uma noite incrível, assim como fez Janelle Monáe na abertura.