Quinta-feira pós-amigdalite, ainda na companhia da amiga amoxicilina, e lá estava eu no Canecão. A minha ida foi por motivos profissionais... Ok, na verdade eu estava era curiosíssima para ver o show da mais nova cantora da MPB. Ana Cañas havia me conquistado há poucas semanas, com o clipe de Esconderijo, à priori, e com o fresquinho Hein?. Fazia tempo que eu não via nada parecido porque as intérpretes atuais são adeptas desse sambinha moderno, ainda que cantem músicas lá da velha guarda. Ela não. A veia rock presente neste novo albúm me fizeram despertar para as letras bacaninhas que a acompanha.
Mas aí veio um show que perdeu os eixos e se resumiu em uma parábola. Ana Cañas entrou no palco desencontrada com a banda e as primeiras músicas soaram estranhas (Na multidão, que abriu a noite deveria ter sido uma das melhores). Conforme o show foi passando, a Ana foi se soltando. A tendência era que melhorasse, e chegou uma hora que até ficou bom: a cantora se encontrou com os músicos e, juntos, atingiram o equilíbrio. Pouco depois, a coisa desandou outra vez e terminou feio.
Tive a impressão que faltou maturidade. A parábola foi causada pela bebida que alterou movimentos e interpretações. Não é questão de puritanismo, mas de limites. O gráfico poderia ter sido diferente se ela tivesse usado os benefícios da cachacinha. O fato de ter se soltado no palco foi ótimo, deu para ver a artista com sentidos aguçados pelo som da sua ótima banda. Falar merda no microfone também vale, mas no fim Ana enrolava a língua e conseguiu se classificar como bêbada chata, viajando mais do que deveria. Foi engraçado até se tornar um exagero. Os vícios da cantora também ficaram aflorados e Cañas abusou da bela voz que tem. As firulas embassaram suas interpretações e ela parecia ter um pedal wah-wah na boca.
Consegui curtir, ainda assim. Algumas músicas, como Devolve moço e Rainy Day #12&35 (cover de Bob Dylan) foram ótimas. A menina e o cachorro, lá no iniciozinho do show, preservou sua doçura, enquanto Esconderijo deu para engolir. Quando eu vou a um show de um artista que eu gosto gero a expectativa de ver, no palco, a reprodução daquele trabalho que toca no meu radinho. A versão live de Ana Cañas soou com o mesmo nome de seu CD e eu prefiro voltar para a gravada, nos meus fones de ouvido. Beeem melhor.